quarta-feira, 27 de maio de 2015

Mais uns ritos de passagem PARTE 2

Leia sobre a parte 1 nesse link


Foi na ultrassom das 9 semanas que começou efetivamente minha gestação, para a família.

Nenei dando tchauzinho na ultra de Translucência Nucal,segundos antes de virar as costas pra gente, já mostrando que é voluntarioso bagarai xD


Para os amigos, só soltei após a 16ª, por autopreservação. Sou dessas que creem em quebranto, mau-olhado e o escambau.

Fui em um obstetra para o pré-natal e ele começou dizendo que eu deveria me desfazer dos meus gatos, por causa da toxoplasmose, sendo que não tenho o protozoário, tampouco meus bichanos. Me desfiz foi do médico e procurei outro, conhecido da família e que me comprou com a promessa de um parto normal e humanizado, bem como um pré-natal detalhado.

A cada semana, era uma sensação de vitória.

No Halloween de 2014, descobri que seria um menino. Não hesitei em escolher um nome. Eu, que só lia sobre nome de meninas, decidi que ele seria um Eduardo, guardião das riquezas. Ou Dudu, que é como o chamamos agora. Foi quando soube que eu, feminista,ecumênica e ~alternativa~ teria a chance de parir e educar um homem pró-feminismo, tolerante com todas as religiões e com os mesmos valores em que acredito.

Ah, o universo de ser mãe de filho com pinto, hahahahahaa


Dudu foi crescendo, se desenvolvendo e me envolvendo numa rotina de endocrinologista, obstetra e nutricionista. Tomei doses de insulina, me privei de uma pá de coisa e a cada furada, eu pensava "é pelo Dudu".


Na véspera da internação, já mostrando os sinais de polidrâmnio e macrossomia. (Foto: @Zozoletinha)
Confesso que achei estranho o obstetra não me fornecer o celular, mas já tinha resolvido que teria o Dudu no hospital onde ele atua como plantonista.

Foi então que, no começo do oitavo mês, meu plano venceu e, com ele, vieram as contrações de treinamento, o inchaço e o aumento exorbitante da barriga. Fui ao hospital do obstetra fofinho, me internei pelo SUS  e fui tratada com tanto descaso e arrogância pelas plantonistas que ganhei uma baita duma laceração no períneo por causa de um exame de toque, fora a ladainha do "mas vc é diabética, aqui não temos suporte, yadda yadda yadda". O pior é que acabei concordando com elas, não sem antes mencionar que eu tinha, sim, como me internar pelo particular, mas fui convencida pelo obstetra fofinho (que não havia dado as caras na ocasião, muito menos me enviado uma palavra de conforto) que o SUS me daria o mesmo apoio.
Me encaminharam para a Maternidade pública e nisso eu tenho que confessar: foi a melhor coisa que a carniceira do toque fez por mim e pelo Dudu.

Foram 6 dias de internação para diminuir minhas dextros e lá mesmo já ouvia que a chance de eu fazer uma cirurgia cesariana era alta. Lá vai mais choro, adeus ao sonho do parto natural, clampeamento tardio de cordão...Tudo entre cardiotocografias, ultrassons e toques (dessa vez sem mais lacerações, graças aos residentes <3). A cada exame e a cada fuçada que eu dava nos artigos de Obstetrícia, me caía a ficha de que meu caso era alto risco e que o polidrâmnio+macrossomia eram realmente indicadores suficientes de cesárea.

Na véspera da cirurgia, esperando fazer uma cardiotocografia. (Foto: @Zozoletinha)

Na manhã de sexta-feira de Carnaval (uma sexta-feira 13), o preceptor da equipe que estudava meu caso decidiu que eu começaria a tomar as doses de corticoides para amadurecer os pulmões do bebê, visto que estava apenas com 35 semanas, para que assim ele nascesse na segunda-feira. Foi aí que, no cardiotoco que eu fiz naquele dia, Dudu se mexeu apenas uma vez. Era o sinal que a equipe cirúrgica esperava para que, na noite daquela sexta, a cesárea fosse feita.

Lembro até hoje de estar no meu leito, com o noivorido do lado, e o enfermeiro falar "e aí, mãezinha, pronta pra cesárea? Bora lá pro centro cirúrgico!"

E fomos. Conversei com o anestesista e pedi para que ele não me amarrasse, e assim ele o fez.
O celular do obstetra tocava The Zephyr Song, do RHCP.
Me esqueci do combinado com o anestesista no minuto em que vi aquela coisinha enorme (54 cm e 3,825 kg, às 35 semanas!) na minha frente.Só conseguia chorar de emoção, achando tudo lindo. Finalmente aparecia meu Dudu. A morfina foi tão forte que lembro de ter perguntado se ele realmente era meu, ao que os obstetras perguntaram se eu queria que colocasse ele de volta ahahahhaha

O noivorido, hematofóbico, esteve ao lado vendo a cirurgia toda e, ao contrário do que todos esperavam, não passou mal nem desmaiou. Era tudo tão lindo, mas mesmo na onda do amor notei que ele chorava fraco demais. Deitada ali na mesa, sendo suturada, assisti aos esforços da equipe para reanimá-lo, aspirando-o e fazendo todos aqueles procedimentos que, num parto de baixo risco, seria desnecessário. Ocorre que aquele parto, aquela mãe e aquele bebê eram de altíssimo risco.

"Fly away on my zephyr/I feel it more than ever/And in this perfect weather/We’ll find a place together"
Dudu e eu ficamos numa sala de estabilização, eu com ocitocina sintética na veia e ele no bercinho aquecido. 
Estranhei a demora, mas a verdade é que já estavam preparando um leito para ele na UCI (Unidade de Cuidado Intensivo) porque ele estava tendo dificuldades para respirar sozinho.

Começava, então, a saga de mãe de UTI e a ultimate quest do Dudu.

Continua....

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